deu vontade, fui lá e fiz!

escultura

o cristo morto

uma inspiração que veio, fez o que tinha que ser feito, e foi embora
No ano de 2018, acordei com uma vontade imensa de criar uma escultura. Era período quaresmal e, nesta época, costumo criar alguma arte sacra como penitência. Mas, neste ano foi diferente: eu nunca na vida havia esculpido nada e o desejo só aumentava, de tal forma que não podia escapar dele.

Eu tinha 40 anos e passava por um período bem complicado financeiramente. Porém, não posso ser ingrato com Deus, pois nunca me faltou nada! Casado há 14 anos e pai de três crianças, precisava esperar que todos fossem dormir para, então, começar a por em prática este projeto. Naquela mesma manhã de quarta-feira de cinzas, liguei para o amigo Fábio Checa, proprietário de uma olaria na cidade e contei a ele sobre este pensamento que me acordou na calada da noite e me tirou o sono.

– Me fale quantos quilos de barro você precisa e eu te levo! Disse Fábio, me incentivando à ideia.
Com algumas madeiras que eu tinha guardadas, fiz o berço, pintei com tinta eletrostática para impermeabilização e, então pedi ao Fábio 80 quilos de barro de sua olaria.

No dia seguinte, logo pela manhã, lá estava ele com sua pampinha com o saco na carroceria. Que peso! Como fazer? Era o próximo passo.

E as coisas começaram a surgir como se tivessem sido chamadas.

Usei a mesa de 3 metros da área da churrasqueira de minha casa, deitei o berço de madeira sobre ela e comecei a modelar a argila, dando a forma de um corpo humano deitado. Assim, com alguns palitos de sorvete adaptados, uma pequena faca e uma espátula, comecei a dar forma à anatomia que media 1.80 metros sobre a mesa.

Os 80 quilos de barro não deram, precisei pedir mais 80 quilos e, aquilo que eu já achava pesado, ficou imensamente preocupante. Achei que a mesa não aguentaria.

Foram cerca de 15 dias para deixar a escultura pronta. Então, faltava apenas secar para fazer o acabamento. Mas, pela falta de conhecimento técnico, tive muito trabalho no tempo de cura do barro, pois a escultura começou a trincar inteira, em todas as partes.

Com algumas pesquisas na internet, comecei a preencher as trincas com o mesmo barro, para dar liga e, conforme a escultura ia secando, as trincas, com o passar dos dias, eram cada vez menores. Pacientemente, fui preenchendo-as todas as noites, quando a família toda dormia.

Estranhamente me via, cada vez mais, motivado a continuar. Diferentemente de outros projetos que abandonei pelo caminho, a cada trinca desta obra, eu me via ainda mais inspirado e foram elas que me ensinaram a cultivar mais a paciência e enxergar melhor que as diferenças estão nos detalhes.

Com a escultura finalizada, apliquei então uma camada de massa acrílica e pintei com betume. Na sequência, fizemos uma rifa para pagarmos o caixão expositor e, posteriormente, entregamos a imagem à igreja Nossa Senhora da Conceição Aparecida, no bairro Cidade Jardim, em Porto Feliz, onde descansa serena.
Lembra que eu havia dito que estava preocupado com o peso?

Então, foi preciso a força de muitas mãos para carregar o caixão com a escultura dentro. Ainda que eu pensasse em sua locomoção, colocando rodinhas para empurrar a obra dentro da igreja, infelizmente a escultura jamais servirá para qualquer procissão que o padre queira fazer na Semana Santa.

Foi uma grande experiência de contato com a Providência Divina que veio com sua inspiração, fez o que tinha que ser feio e partiu, deixando em mim uma sensação incrível de missão cumprida que, apesar do resultado, nunca mais tive vontade de esculpir outra coisa.

A obra foi destaque no G1 e também no ACI Digital (Agência Católica de Informações), principal site de notícias da Igreja Católica, inclusive traduzido para o espanhol.