Via-sacra igreja ns conceição aparecida
arte sacra
a 1ª via-sacra
seguindo os passos do cristo traço a traço
No ano de 2008, uma crise mundial atingiu em cheio o setor automotivo que acarretou no corte de muitos profissionais do setor, dentre eles, o pessoal do marketing que trabalhava internamente nas indústrias.
Muitas indústrias do segmento foram obrigadas a reduzir drasticamente seu quadro de funcionários e, o primeiro setor a ser enxugado é sempre aquele visto como ocioso, ainda mais quando a produção está toda parada. Neste contexto eu me encontrava. Neste ano, eu era Supervisor de Marketing de uma destas indústrias fabricantes de produtos para o setor automotivo. Fui demitido. Normal, era uma crise, muitos outros também saíram e tiveram que se reinventar. Faz parte do jogo. Mas, não posso ser injusto com a firma, porque até tentaram me realocar em outro setor, e na supervisão de vendas de uma linha de produtos que a empresa fabricava, eu não me dei muito bem. Meu forte nunca foi a venda, mas sim as estratégias e campanhas de lançamentos que davam embasamento aos vendedores (para estes eu tiro o meu chapéu). Eu nunca tive o dom para vender. Não teve jeito, fui embora. Era o fim de um período de 5 anos de dedicação e muito amor pelo que eu fazia lá dentro. Vida que seguiu!
Desta forma, mais uma vez, iniciava minha ‘Via-Sacra’ batendo de porta em porta nas agências de publicidade da região, em busca de recolocação no mercado. Criação era o que eu sabia fazer.
Nesta época, eu estava casado e com um filho pequeno, além da casa que havia construído e que faltava muito para terminar. Por dias, semanas e meses, Aline, minha esposa, era quem mantinha o sustento familiar. Ela trabalhava na cidade vizinha e saia muito cedo de casa. Eu acordava com ela, deixava-a na rodoviária e voltava para casa de onde eu partia para mais um dia de distribuição de currículos. Nesta espera angustiante de alguma empresa me chamar, eu ficava sozinho em nossa casa cujas paredes eram rebocadas somente por dentro. Quando chovia, eu me via dentro de uma caixa de papelão molhado, tamanha era a sensação de sufoco e desolação. Quase, foi bem por pouco, caí em depressão.
Como sempre, Deus estava ali comigo. Fui pegando um freelance aqui, outro ali e, assim, complementando a renda. Meu filho ficava com meus pais durante o dia. Quando Aline retornava, já passava na casa deles e trazia o menino.
Assim, neste período, comecei a rabiscar esta primeira Via-Sacra, tamanha era minha fé de que Deus me ajudaria tão logo a encontrar um novo emprego. Riscos e rabiscos ocupavam minhas tardes e, numa sala – onde hoje é o meu escritório de trabalho home-office – pendurei um varal onde estendi as 15 ilustrações que fiz em lápis 6B e pintei com Betume diluído em querosene. Estava finalizada a obra da minha vida, ali, bem na minha frente.
A contemplação do feito me remetia a um período de minha vida, lá pelos idos dos meus 15 anos, quando apresentei uma tela pintada a óleo de uma passagem da Via-Sacra para o então pároco local que olhou com certo desdém e disse que eu não estava pronto ainda para tamanha responsabilidade. De fato, naquela época eu jamais poderia compreender a dureza de suas palavras, e acabei jogando o quadro na lixeira da praça da matriz.
Arrumei um emprego como assistente de criação numa agência de publicidade e depois outra agência e outra, até que me tornei um Diretor de Arte Pleno. Nesta altura da minha ‘via-sacra’ eu já tinha levado muitas pedradas pelo caminho, bem como muitos também me enxugaram o rosto e me ajudaram a carregar minha cruz até o meu propósito. Meu amigo Cirineu sempre esteve por perto, assim como esteve com Jesus em sua Via Dolorosa. Não esmoreci.
Anos mais tarde, doei esta obra à Igreja Nossa Senhora da Conceição Aparecida, no bairro Cidade Jardim de Porto Feliz, por ocasião de sua reforma. Igreja esta onde as gêmeas foram batizadas e onde repousa a escultura do Cristo Morto que a Providência Divina me encomendou como forma de gratidão por nunca ter desistido.
Hoje dirijo a Observe Propaganda, um escritório de criação que atende diversos clientes da cidade e região, que, em 2021, completou 10 anos.